A viagem que mudou a vida: de Cuba ao Brasil
Por Manuela Montez
Há um tempo atrás, muitas pessoas tinham receio de visitar Cuba. Atualmente se tem mais informação de que é um país totalmente acessível, seguro e recomendado para turismo. As praias paradisíacas, a cultura e história do local são extremamente convidativas. Há curiosidades interessantes sobre o dia a dia das viagens que os turistas contam, por exemplo, a moeda dos moradores é diferente da de quem visita o local, o acesso à Internet é mais complexo e os carros antigos estão por toda parte.
No entanto, ouvir as recomendações e a história de alguém que morou por anos em Cuba e depois se mudou para o Brasil, ou seja, conhece os dois países com visões diferentes, é mais interessante de saber.
Alexa Acosta Vega, 19, estudante de relações públicas, se mudou de Cuba para o Brasil aos 13 anos. Nasceu numa província no interior de Cuba chamada Sancti Spíritus, mas morava em Havana.
Como era sua vida em Cuba?
Minha vida em Cuba era bem tranquila, até porque minha infância e início da adolescência foram lá. Era bem divertido, eu brincava muito na rua. A gente não tinha um acesso tão fácil à Internet, então brincávamos do “jeito antigo”: andar de bicicleta, jogar bola, ir ao parque e ficar conversando com os amigos até tarde. Por mais que a situação no país não fosse legal, a minha como criança era.
O que mais gosta no país?
O que eu mais gostava em Cuba era o clima tropical, as praias e com certeza a minha família, que sinto muita saudade.
Se pudesse recomendar sua comida cubana favorita para turistas, qual seria?
Arroz congris, que é chamado de “moros y cristianos” também, lembra um pouco o baião de dois aqui no Brasil. Esse prato é um arroz com feijão, mas o feijão é mais seco porque o arroz absorve o caldo. Fazíamos muito isso lá, sinto saudades de comer.
E pontos turísticos, quais os melhores para visitar?
O lugar que eu mais gostava de ir era Varadero, uma das melhores praias de Cuba, se não a melhor. Outro ponto turístico que recomendo é o Centro Histórico de Havana.
Você se mudou com sua família?
Eu me mudei com a minha mãe e meu irmão para São Paulo, fomos morar com meu padrasto.
Por que decidiram vir para o Brasil?
Nós três nos mudamos porque a situação política e econômica de Cuba não é muito boa. É muito difícil conseguir as coisas no geral. Mesmo tendo dinheiro, há muita coisa em falta e repressão política, mas nada do que muitas vezes se especula exageradamente. É uma ditadura muito disfarçada. No geral, viemos pra cá mais pela economia mesmo, a minha mãe é médica e ela não ganhava tão bem quanto ela poderia ganhar em outro lugar, isso motivou nossa mudança.
Qual foi seu sentimento ao saber que moraria no Brasil?
Quando eu vim pro Brasil eu achei que ia ser muito legal essa mudança de vida, só que eu tinha esquecido dos problemas da adolescência, que foram muito difíceis pra mim. O choque cultural junto de, pela primeira vez, morar com uma figura paterna mexeu muito comigo. Foi muito louco e difícil, mas passou e eu me adaptei bem depois de um tempo e hoje eu sou a pessoa mais feliz morando no Brasil.
Como foi o processo de passar por esse choque e se adaptar?
Aos poucos eu fui me adaptando, mas esse choque cultural existiu sim. Na escola a questão da mudança do idioma foi muito forte porque as aulas eram todas em português. Eu tinha uma professora que dava aulas de espanhol na escola, ela me ajudava muito, mas era difícil porque eu não tinha ela comigo o tempo todo. A comunicação com os colegas era complicada, nas primeiras provas eu tive que decorar o conteúdo sem entender, mas aos poucos tudo fluiu naturalmente.
O que te pegou de surpresa no seu período de adaptação?
Algo que me surpreendeu positivamente quando eu vim foi o modo como me acolheram. Eu estava com muito medo e apesar de ter me mudado há poucos dias, a recepção que recebi fez parecer que eu já morava aqui há mais tempo. Fiz amizades rápido, criei uma relação boa com professores e amigas da minha mãe, então uma coisa que eu gostei muito foi como as pessoas são acolhedoras.
Depois desse tempo morando no Brasil, o que mais gosta daqui?
É muito difícil de escolher, porque eu me sinto parte desse país. Eu gosto das pessoas, da comida, da variedade cultural e linguística do Brasil. Eu amo as diferenças do Brasil, eu acho que é isso que torna ele rico.
E qual seu sentimento atual sobre ter vindo morar no Brasil?
Uma palavra que descreve meu sentimento de ter vindo para o Brasil é “gratidão”. Eu sou muito grata por ter vindo morar aqui, criei relações de um jeito que eu nunca imaginei que criaria, conheci essa cultura e vi novas oportunidades para minha vida. Eu sou feliz e amo estar aqui.